On my feet I walk, with my legs I run,
In my arms I'll hold another day.
With my head I think, from my heart I sing,
With my hands to my face I pray...
quarta-feira, novembro 24, 2004
Na esquina da minha casa tem um carro que vende pão. É o Carro do Pão. Tem um alto-falante que fica repetidamente dizendo os precos dos pães, e algumas frases muito legais como:
- Promocão promocão promocão, só aqui, no Carro do Pão!
- Temos uma bolsa para você levar os pães. É isso mesmo: temos uma bolsa para você levar os pães!
(bolsa = sacola plástica, igual a do supermercado)
O Carro do Pão está lá quase todo dia, mas ontem não estava. Mas quando eu estava passando, ouvi um alto-falante vindo de outro lugar que dizia:
- Promocão! Dois queijos e uma goiabada por apenas cinco reais! Aqui, no Carro do Queijo!
...
Como asssiiiiim?? O Carro do Pão foi sequestrado por alienígenas e se transformou em Carro do Queijo???
Então eu fui pra Brasília. Eu achava que eu ia odiar Brasília, mas sabe que até que não - achei agradável e bonitinho, apesar de parecer meio vazio. Não me pergunte o que eu quero dizer com vazio. Me pareceu que, além das coisas estritamente necessárias como hotel, locais de trabalho, aeroporto, não tem nada lá. Pode ser só porque eu não conheco, sei lá...
Mas enfim, eu gostei de Brasília. Bem verdade que a cidade já comecou com vantagem, porque eu fui para lá indo de São Paulo. Pode ter sido só por causa da comparacão. São Paulo, por sua vez, é a cidade mais horrorosa do mundo.
Não foi a minha primeira visita a São Paulo, mas esta me irritou profundamente. Deve ter sido por causa da saga de procurar uma pousada que não existe. Bem, provavelmente a pousada existe, mas o fato é que o endereco indicava o bairro "Itaim-Bibi", e também que a pousada era "no aeroporto de Congonhas". Cariocas inocentes que somos, acreditamos que o tal aeroporto ficasse no tal bairro.
Não. Horas depois descobrimos que não, depois de rodar todas as ruas do Itaim-Bibi - aliás que nomezinho mais triste, hein - e finalmente comecamos a catar o aeroporto. Mais algumas horas depois, o encontramos! Rodamos muito em volta dele, procurando a rua onde a pousada supostamente ficava.
Ah, sim, não posso esquecer de relatar a maravilhosa conversa por telefone com a pousada fantasma, tentando pedir informacões:
- Oi, eu estou na rua Brigadeiro Faria Lima. Como é que eu chego aí?
- Aqui é perto do aeroporto de Congonhas.
- OK. E como é que eu chego aí?
- Bom, depois que passar o aeroporto, tem...
- Não, não, depois não. Antes. Como é que eu chego no aeroporto?
- Você está perto de onde?
- Eu sei lá. Isso que eu estou te perguntando.
- Mas é que eu não conheco.
- Você não sabe como chegar na sua pousada?
- Sei, mas... mas... mas eu não conheco.
- Argh, tá bom, tchau.
Isso foi antes, claro, porque o jeito mais fácil era perguntar. Bom, tendo encontrado o aeroporto, comecamos a ligar de novo para a pousada, porque teoricamente daí pra frente ela "conhece". Chamava, chamava, ninguém atendia. Como assim??? Todo mundo foi dormir na pousada? Vai que a gente consegue encontrar, e aí, não vai ter ninguém para abrir a porta?
Não posso nem quero descrever a agonia que foi aquela noite. O desfecho é que desistimos e voltamos para o hotel onde tínhamos ficado antes, que era mais caro. Os meninos voltaram para o Rio no dia seguinte, e eu fiquei mais dois dias mofando em São Paulo esperando para ir para Brasília. Eu não saí do quarto do hotel.
Brasília não foi ruim, apesar de eu ter ficado dois dias mofando lá também antes de voltar para casa. Custava a CAPES dizer antecipadamente qual dia vão precisar de você lá, para você poder se programar? Eles ainda fazem o favor de atender primeiro as pessoas que vem de mais longe, e isso eu acho legal, mas dizem que isso é para "reduzir os custos com transporte e hospedagem". Acontece que se eu mudasse o meu vôo, a taxa para fazer isso ia ser bem maior do que a noite extra de hotel que eu fiquei lá sem fazer nada. Argh.
Eu só não acho que tenha me saído muito bem. Como vocês devem saber, eu estou *tentando* conseguir uma bolsa de doutorado para ir para os Estados Unidos. Eu achava que o processo da CAPES era por sobrevivência - tão complicado que quem chegar ao final ganha - e é quase isso, na verdade. 279 pessoas conseguiram completar a fase de *documentacão*. Isso é preencher os milhares de formulários e enviar alguns documentos. Pela internet. Eu não sei o que vocês acham, mas eu acho 279 um número pequeno, considerando que se trata do Brasil inteiro.
140 pessoas foram chamadas para a fase seguinte, a "entrevista" em Brasília. A explicacão, que eu até concordo, é de que esse momento de se encontrar pessoalmente é muito importante, para eles verem que nós somos pessoas de verdade e não só os documentos, e para nós vermos que eles são pessoas de verdade também, não só virtuais e telefônicas, etc. É legal. Cansativo e caro, mas legal.
Uma coisa que me deixou especialmente feliz foi perceber que não, eu não sou a única criatura errada que esqueceu que tinha mais documentacão para mandar depois da documentacão e mais formulários para preencher depois de ter preenchido os formulários. Todo mundo estava basicamente na mesma situacão, tendo os prazos extendidos excepcionalmente porque "não é nossa intencão te prejudicar".
Aliás, esse foi um outro ponto que eu acho interessante comentar. Realmente não é intencão deles prejudicar ninguém. Tinha várias pessoas lá, candidatos, que estavam claramente com uma postura de "somos nós contra vocês". Todo mundo tinha perguntas - como é que vão ser as entrevistas, como vai ser escolhido quem ganha bolsa e quem não ganha, quantas bolsas são, como vão ser feitas as inscricões para as faculdades, afinal de contas os prazos já estão acabando. Aliás, como vocês vão escolher para qual faculdade cada bolsista vai?
Natural fazer essas perguntas, mas algumas pessoas estavam fazendo elas, sei lá, parecia que estavam dizendo "pare de mentir para mim", "vocês estão escondendo coisas", "vocês são maus e vão me mandar para uma faculdade onde eu não quero ir"... Tudo bem que o processo de pedido de bolsa é mais complicado do que precisaria ser, mas eles também não são "o inimigo". Tinha gente achando que eles fariam qualquer coisa para impedir a gente de conquistar as bolsas, mas o que eu vi o tempo todo foi gente tentando ajudar. Todos os telefonemas que eu fiz, todos os emails que eu mandei, sempre fui respondida por pessoas de boa vontade. O próprio lance dos prazos que passaram porque várias pessoas esqueceram, já demonstra isso. Estamos todos do mesmo lado.
Quanto a "quantas bolsas são", a gente tem que entender que nem eles sabem. Francamente, eu não acho que eles chamariam pessoas para a entrevista sem ter intencão de dar bolsa para elas. Se só tivesse 10 bolsas para dar, eles não chamariam 140 pessoas - eles escolheriam de alguma maneira, como no final quem escolhe são eles mesmo. Não é que todo mundo que foi para a entrevista vai ganhar bolsa, até porque provavelmente não tem tanta bolsa assim, mas deve ser uma grande parte.
Mas não gostei da minha entrevista, não. Pra comecar, ela foi extremamente curta - eu achava que as pessoas iam me fazer perguntas sobre os lances que eu tinha escrito, afinal de contas tinha vários questionários para responder para as entrevistas, achei que eles iriam querer conversar sobre aquelas coisas. Mas foi basicamente, "sei lá, você tem alguma coisa para dizer?" Não exatamente assim, claro. Mas quase isso. E pelo menos um dos três que me entrevistou deixou bastante claro que, na opinião dele, meu doutorado poderia ser feito no Brasil tão bem quanto no exterior. Claro que opinião é isso mesmo, nem todo mundo tem que concordar - mas a opinião dele é uma das que conta nesse caso!! A minha não conta!! Não estou com grandes esperancas, não.
Apesar disso, pelo menos ganhei um TOEFL e um GRE de graca. Fiz eles, respectivamente, anteontem e ontem. Ambas foram exatamente como era de se esperar, o TOEFL facílimo e o GRE fácil, com excessão daquela parte das palavras que é impossível. Chutei todas. Nunca tinha ouvido falar de nenhuma das palavras que caíram.
Bah, acho que era isso. Agora que não tem mais nenhuma viagem no futuro próximo, quem sabe eu consigo botar a minha vida em dia? Preciso desesperadamente terminar de escrever minha dissertacão de mestrado... (a situacão não é tão ruim quanto eu falo, pessoal. Na verdade ela está quase pronta. Mas eu sou nervosa por natureza, vocês entendem...)
Favor abstrair a falta de acento... Eu preciso contar essa historia e nao sei se vou ter tempo quando estiver num computador que tenha acentos. Voces devem ter percebido a minha absoluta falta de tempo recentemente.
- Biblioteca, bom dia.
- Oi! Me ajuda, eu tenho um problema. Eu estou viajando, e eu tinha livros para renovar ontem. Eu achei que fosse hoje, mas agora fui renovar na Internet e vi que nao era... Eu so volto na segunda feira. O que eu faco?
- Ih, agora so pode renovar depois de pagar a multa. Ja tem multa de ontem pra hoje.
- Eu sei. O que eu estava pensando e: Se eu pedir para uma pessoa ir ai pagar essa multa, dai eu ficaria sem multa. Assim, eu poderia renovar pela internet?
- Essa pessoa teria que trazer os livros.
- Mas estao na minha casa, ela nao tem como pegar.
- Entao nao vai dar... Tem que trazer o livro para renovar.
- Mas eu nao quero que ela renove, so que pague minha multa. Eu mesma renovaria depois, pela internet.
- Nao da. Quando esta vencido, tem que trazer o livro.
- Sei... Eu so estava pensando, ja que eu estou impossibilitada de levar os livros porque estou viajando, ja que eu estou telefonando, se a gente nao poderia dar algum jeito...
- Eu nao posso, porque esta no sistema. O problema e o seguinte: Quando o livro esta vencido, voce tem que trazer aqui para renovar, porque ele pode ter alguma reserva. Se tiver reserva, nao pode renovar.
Pausa.
Ate aqui, isso era uma conversa de Juliana tentando "dar um jeitinho" com a biblioteca porque esqueceu de renovar o livro, e o cara dizendo que nao podia. Normal. A partir daqui, comeca a ser uma discussao sobre as regras loucas da biblioteca, e seus motivos mais loucos ainda.
- Mas se tiver reserva, nao pode renovar mesmo que nao esteja vencido.
- Verdade. Por isso que tem que trazer o livro aqui.
- Mas isso nao e por estar vencido. E por ter reserva.
- Claro, mas se voce nao trouxer o livro eu nao tenho como saber se tem reserva.
- Claro que tem. Ate eu sei quando tem reserva. Quando eu tento renovar pela internet e ele me diz que nao pode porque tem reserva, eu sei que tem reserva.
- Mas voce tem que trazer o livro, porque eu preciso ver ele pra saber se tem reserva. Porque ele esta no sistema, entendeu?
- Nao, nao entendi.
Sei la, pra mim "sistema" significa uma coisa computadorizada onde ele poderia saber se os livros tem reserva ou nao... Nao e no proprio livro que vai estar escrito se ele tem reserva...
- Olha, deixa eu te explicar por que isso e assim. E porque antes, quando nem tinha renovacao pela internet, nao tinha que trazer o livro, voce podia vir aqui e renovar sem o livro. Mas ai, o que as pessoas faziam? Tinha muita gente que perdia o livro, e continuava renovando o livro varias vezes, a gente acabava ficando sem o livro.
- E uma pena, mas hoje eu continuo podendo fazer isso, e so renovar pela internet.
- Nao pode nao!
- Claro que posso. E so pegar um livro, perder ele, continuar renovando pela internet, desde que eu nunca atrase posso renovar quantas vezes eu quiser mesmo tendo perdido o livro...
- Ah ta, isso, e verdade, mas no final voce tem que dar conta do livro.
Eu suponho que "no final" ele se refira ao fato de que para obter meu diploma uma das coisas que eu tenho que fazer e pegar um carimbo na biblioteca de que eu devolvi todos os livros, nao tenho dividas, etc. Se nao, nao tem diploma.
- E do outro jeito tinha tambem.
- Nao, voce podia renovar sem trazer o livro!
- No final! No final! Voce renovava o livro ai quantas vezes quisesse sem levar o livro, mas no final tinha que dar conta do livro!
- Nao, voce podia renovar sem trazer o livro!
- Ahnnnn... Ta... Deixa pra la que eu estou fazendo interurbano no celular.
- Ta... Mas olha, segunda e terca e feriado, entao devolve seus livros na caixa quarta feira antes das 8:30 da manha, porque ai conta como se voce tivesse devolvido sexta.
"A caixa" e um lance na frente da biblioteca onde voce joga seus livros, eles despencam de qualquer jeito, e isso conta como devolucao. Na caixa, tem um cartaz bem grande dizendo: "A devolucao de livros nessa caixa nao isenta o usuario de pagamento de multa".